domingo, 24 de julho de 2016

Reggae em Belém do Pará- Um Pouco de História


A capital paraense é conhecida como “cidade das mangueiras” e abraça muitos estilos musicais como brega, melody, tecnomelody, arroxa, calipso, rock, pop, samba, pagode, forró, sertanejo, eletrônica, reggae e tantos outros. E para todos estes ritmos musicais, existem espaços para acolher seus seguidores. O reggae por exemplo, tem seus ambientes, ou como se costuma chamar, Clubes de reggae, como Coisa de Negro, Porto Solamar, Açaí Biruta e outros.  O reggae tem se tornado muito popular e abraçado por grande parte da sociedade belenense, existem até aplicativos de rádios, da cidade que só tocam reggae, para serem baixados em celulares, tabletes, dentre outros. Para sabermos um pouco mais sobre o reggae em Belém, em São Luís, no Brasil, vamos conhecer sua história, origens e influências.

                A Jamaica é um país situado no mar do Caribe, ao sul da ilha de Cuba. Os povos pre- colombianos que habitavam o território jamaicano eram os Taínos e os Aruaques, estes dois povos chamavam suas terras de Xaymaca, que significa “terra dos mananciais”. Em 1494, Cristóvão Colombo aportou nas ilhas caribenhas e reivindicou a possessão espanhola.  Esta colonização durou até os anos de 1655, quando os britânicos conseguiram dominar as ilhas e expulsar os espanhóis. Ou seja, a Jamaica sofreu duas colonizações a primeira no final do século XV com os espanhóis, e a segunda em meados do século XVII com os ingleses.  Os jamaicanos somente conquistaram sua independência em meados do século XX, em 6 de agosto de 1962.  Atualmente tem como tipo de governo a monarquia constitucional parlamentar, onde o seu monarca e chefe de estado é a rainha britânica Elizabeth II, seu governador geral é, o jamaicano, Patrick Allen e o primeiro ministro, também jamaicano, é  Andrew Holness.


Patrick Allen
http://www.kingshouse.gov.jm/index.php/speeches/903-2016-new-year-message-from-his-excellency-the-governor-general-the-most-hon-sir-patrick-allen-on-gcmg-cd-kst-j


           
Andrew Holness
https://www.google.com.br/#q=primeiro+ministro+da+jamaica

           Com a chegada dos colonizadores espanhóis na Jamaica, e posteriormente com os britânicos, os números de escravos negros levados dos países africanos para a ilha caribenha foi aumentando cada vez mais, enquanto os números de nativos (povos aruaques e tainos, principalmente) foram diminuindo. A população negra tornou- se a maior no território jamaicano. Sua cultura contribuiu grandemente para a influência e formação da identidade na Jamaica, o movimento religioso denominado rastafári, por exemplo, tem ligação entre a Etiópia (país africano) com a Jamaica. De acordo com alguns estudos, o movimento rasta, surgiu no território jamaicano durante a década de 30, onde trabalhadores livres e camponeses, em sua maioria afrodescendentes, desencadearam sua origem. Muitos atribuíram como seu líder religioso, o antigo Imperador da Etiópia, Tafari Makonnen, que após ser coroado mudou seu nome para Hailê Selassiê, em 1930. No ano de 1936, o imperador deu um discurso sobre a invasão italiana no território da Etiópia. Este discurso sobre superioridade e inferioridade entre raças inspirou muitos países cuja maioria da população era afrodescendente, e o movimento rastafári (tem como significado ras = cabeça, líder e Tafari = nome do imperador da Etiópia) se expandiu levando consigo esta filosofia de liberdade e igualdade a todos. O movimento rastafári influenciou também muitos estilos musicais como ska, mento e o reggae (que é uma junção do ska, rocksteady, jass, blues e calipso).

Hailê Selassiê ou Tafari Makonnen
http://mgar.com.br/blog/?p=108

Bandeira da Etiópia
http://visaocultcultural.blogspot.com.br/2011/12/as-cores-do-reggae-verde-amarela-e.html

                Após a luta pela independência jamaicana no início da década de sessenta, houve a explosão do ritmo musical chamado Ska, que é uma dança mais acelerada que as batidas de reggae suas letras também remetem a vida e o cotidiano dos jamaicanos. O primeiro grupo conhecido de ska foi The Skatalites , inclusive as músicas tocadas durante o dia da independência da Jamaica, e posteriormente após ele, foram em ritmo de ska. No final dos anos sessenta e inicio de setenta o ska sofreu uma desaceleração em seu ritmo, se tornando mais lento e com algumas batidas a mais, esse novo ska foi denominado de Reggae.

http://subatomicsound.com/events/the-skatalites-subatomic-sound-system-brooklyn-bowl-32/

O reggae é um estilo musical que teve influencias do ska, do mento, do calipso, do rocksteady, do jazz e do blues. Toda essa mistura de batidas e juntamente com o movimento da filosofia rastafári, o reggae se tornou um movimento de música, de vida, de filosofia e luta. Assim como no ska, as letras de reggae abordam questões sociais (como pobreza, fome, luta, liberdade, dominação, preconceito racial, dentre outros), econômicas, políticas e até espirituais (considerando que alguns regueiros são adeptos ao movimento rastafári). Logo o reggae pode ser pensado muito além de um ritmo musical, é um movimento cultural, social, de filosofia. Os ambientes que tocam reggae são muitas vezes denominados de “clubes de reggae”.  Na década de setenta esses clubes de reggae eclodiram com músicas de Jimmy Cliff e Bob Marley (este que era adepto rasta).  Nos anos seguintes, pelas famosas radiolas (ondas de rádios do caribe) e através dos portos no litoral brasileiro, o reggae chega na cidade de São Luís do Maranhão, e posteriormente também invade a capital Paraense.
                As cores do reggae são as mesmas cores da bandeira da Jamaica (verde, amarelo, e preto) acrescentando apenas o vermelho. Todas elas têm seu significado para o movimento. A cor verde representa a vegetação, a amarela significa a riqueza, a preta é a força da raça jamaicana e seus ancestrais, e o vermelho seria o sangue derramado pela escravidão durante as colonizações no território. O leão, muitas vezes presente na bandeira dos regueiros, é um símbolo do movimento rastafári vinculado ao reggae. O leão, para os rastas, representa o Messias (Jesus) nas escrituras sagradas. É um símbolo de liderança e fé. 

http://amusicareggae.xpg.uol.com.br/simbol.html



REGGAE no Brasil: em SÃO LUÍS e BELÉM

Radiolas em São Luis do Maranhão
http://www.reggaemidia.com/2012_09_01_archive.html

                A “Jamaica brasileira”, também conhecida como a “capital brasileira do reggae”, são essas umas das alcunhas de São Luís do Maranhão. Como foi dito, a capital maranhense abraçou o ritmo caribenho. No final da década de 60, era comum em São Luís festas de aparelhagens aos ritmos de salsa, rumba e  merengue, com a explosão do reggae na década seguinte, a cultura maranhense se identificou mais ainda com a jamaicana, e o reggae tomou conta da capital. Não demorou muito para que o ritmo se espalhasse por outros estados brasileiros, a cidade de Belém do Pará, por exemplo, incorporou este novo ritmo a sua terra. Em 1977 surgiu o primeiro clube de reggae em Belém, a “ Toca do Reggae”, que recebeu este nome devido ao espaço muito pequeno, era no quintal da casa do Ras Fernando, no bairro da pedreira. Temos nomes  de diversos adeptos e pioneiros do reggae na capital paraense como Ras Alvim, RasMargalho, dentre outros. Após a criação da Toca, muitos outros clubes de reggae surgiram, como Coisas de Negro, Porto Solomar, Açai Biruta, Reggae dos 48, Habitat do Reggae, Parque dos Igarapés e muitos outros.

http://www.apontador.com.br/local/pa/belem/bares_e_choperias/C403172913620U6203/porto_solamar.html

              
https://kekanto.com.br/biz/acai-biruta

           No final da década de oitenta e inicio de noventa temos a explosão dos “Melôs do Reggae” (melodias marcantes) , temos o White Witch ou Melô do caranguejo,Melô da Poliana ou  ThinkTwice , SweetCandy ( banda Reprise) e outros. Em Belém o reggae ganhou muitos adeptos, foram criados muitos movimentos como Movimento Cultural Unidos pelo Reggae, Movimento Reggae do Aurá, Movimento União pelo Reggae, Movimento Revolução do Reggae, dentre outros e suas associações com por exemplo Associação Cultural dos Movimentos de Reggae de Belém e Ananindeua (AMOR). Bandas de reggae paraense também foram criadas, como Nego Jô e Leões de Soweto, Six Marley, Holly Pype, Sevilha, Cristal Reggae, Amazon Java, Gaia na Gandaia, Jahffa Reggae, Kayamakan, e outras. Em meio a esse conjunto regueiro, surgiram os programas de rádios como Cultura Reggae Rádio, Sintonia do Reggae Rádio e Reggae Vibration Rádio. Atualmente existem aplicativos de rádio paraenses que so tocam reggae, e podem ser baixados nos celulares e tablets, como Radio Belém Zion, Radio Ras Reggae, Radio Play Reggae, Radio Conexão Belém Reggae e outras.

Radio Ras Reggae


 Assim percebemos que a comunidade regueira vem conquistando cada vez mais seu espaço em meio a sociedade belenense. Porém, apesar do número de adeptos ao reggae ser consideravelmente grande em Belém, infelizmente o número de acervos sobre estes estudos de reggae na capital paraense é considerado muito pequeno quando comparamos a estudos sobre o reggae na “Jamaica brasileira” por exemplo. É necessário que aja mais pesquisas a serem elaboradas sobre o reggae e seus clubes na “cidade das mangueiras”, pois nem só de brega, calipso, tecnomelody e carimbo vivem as festas de Belém do Pará.

http://vitroladubreggae.blogspot.com.br/2011/02/onde-dancar-reggae-em-belem_04.html




               



               












Bibliografias e sites consultados

COSTA,R.  DJs, Magnatas e Regueiros: Considerações sobre o reggae na ilha de São Luís. Programa de  Pôs- Graduação em Comunicação da UFPE. Ícone v. 10 n.2 – dezembro de 2008.
COSTA, R. REGGAE: DE TESOURO DA JAMAICA A RITMO POPULARIZADO NO MARANHÃO. Trabalho apresentado no III ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, realizado entre os dias 23 a 25 de maio de 2007, na Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil.
SCHURMANN, E. F. A música como linguagem. São Paulo: Brasiliense, 1989.
SILVA, C. B. R. da. Da terra das primaveras a ilha do amor: reggae, lazer e identidade cultural. São Luís: EDUFMA, 1995.
Bob Marley comenta sobre a diferença entre ska, rocksteady e reggae em: https://www.youtube.com/watch?v=hfsP76kBPp4
Banda The  Skatalites em:  https://www.youtube.com/watch?v=EcoNPm3pyqg
Escravidão nas ilhas caribenhas ver: http://www.klepsidra.net/klepsidra26/brecha.htm
Sobre o movimento Rastafári e o discurso de Tafari ver: http://mgar.com.br/blog/?p=108 e http://www.pedalnaestrada.com.br/pages.php?recid=411



Postado por: Déborah Lopes ( Historiadora)


2 comentários:

  1. Muito bom o texto, parabéns! Bem escrito e com informações preciosas. Gosto muito de reggae. Um forte abraço.

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  2. É bom termos textos que ajudem a contar a história do reggae no Brasil, especialmente em São Luís e Belém, duas cidades que têm muito em comum, especialmente o amor pela cultura reggae. Gostaria apenas de acrescentar que as banda Herva Nativa, não citada no texto, teve grande importância na resistência do reggae feito no Pará no período 1996 a 2013. Tendo tocado em vários Tributos a Bob Marley e ter sido uma das primeiras a ter vocalistas femininas e negros e negras na formação. Bless!

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